A Questão da Existência de Deus: Reflexões Filosóficas e Críticas Sociais para o Ensino Contemporâneo
Não Existe Deus! Não Há Deus em Lugar Algum!
O grito desesperado de "Não existe Deus! Não há deus em lugar algum!" ecoa com uma força perturbadora quando nos deparamos com tragédias que desafiam nossa compreensão e nossa fé. Recentemente, as mortes trágicas de crianças no Rio Grande do Sul, vítimas de afogamento, e as perdas irreparáveis de jovens vidas nas guerras entre Ucrânia e Rússia, e entre Israel e Palestina, nos obrigam a confrontar as duras realidades da existência humana e a questionar a presença divina em um mundo tão marcado pelo sofrimento e pela injustiça.
Friedrich Nietzsche, um dos filósofos mais influentes do século XIX, proclamou que "Deus está morto". Essa famosa declaração não era apenas uma provocação; era uma reflexão profunda sobre a condição humana e a evolução da sociedade. Nietzsche argumentava que a crença em um deus era um construto humano, uma forma de lidar com os medos e as incertezas da vida. À medida que a humanidade avançava em conhecimento e autoconsciência, a necessidade de um ser divino diminuía, revelando a verdadeira natureza da existência: caótica, finita e desprovida de propósito cósmico (NIETZSCHE, 1882).
A fé na existência de um Deus benevolente que zela por cada um de nós é uma pedra angular em muitas culturas e sociedades. No entanto, quando confrontados com a perda brutal de vidas inocentes, essa fé é abalada. Como pode um Deus onipotente e misericordioso permitir que crianças, o símbolo máximo da pureza e da esperança, sejam ceifadas de maneiras tão cruéis e insensatas?
No Rio Grande do Sul, o afogamento de crianças em rios deixa um rastro de dor e desolação que nenhuma explicação teológica pode amenizar. As águas que deveriam ser fonte de vida transformam-se em agentes de morte. E então nos perguntamos: onde está Deus em meio a essa tragédia? A sensação de abandono e a falta de respostas claras nos levam a um ceticismo doloroso e justificado.
A situação é igualmente desesperadora nos conflitos armados em que crianças são frequentemente as vítimas silenciosas. Na Ucrânia e na Rússia, a guerra destrói famílias, sonhos e futuros. Em Israel e Palestina, a violência incessante rouba a infância de meninos e meninas que mal tiveram a chance de viver. A pergunta ressurge: onde está Deus quando bombas caem e tiros ressoam, ceifando vidas que mal começaram?
Nietzsche via a morte de Deus como uma oportunidade para a humanidade assumir plena responsabilidade por seu destino. Sem um deus para culpar ou para recorrer em momentos de crise, somos forçados a enfrentar nossa finitude e a fragilidade de nossa existência. A democracia, idealizada como um bem universal, deveria promover a paz, a justiça e a dignidade humana. Contudo, mesmo em democracias estabelecidas, o sofrimento persiste e a injustiça prevalece. A ausência de um cessar-fogo efetivo e duradouro em zonas de conflito sublinha a falência de nossas instituições e a fraqueza dos nossos ideais. A paz, tão ansiada e proclamada, parece sempre escapar por entre nossos dedos, deixando um rastro de desespero.
Além disso, experimentos históricos com modelos socialistas mostraram que, mesmo quando a economia é organizada de forma a supostamente beneficiar a coletividade, o sofrimento humano pode persistir, especialmente quando o indivíduo é sacrificado em nome de um ideal coletivo. Nos regimes socialistas do século XX, a promessa de uma sociedade justa e igualitária frequentemente resultou em opressão e perda de liberdade pessoal. A economia poderia ter sido apenas economicamente socialista, mas o controle sobre o pensamento e a supressão da liberdade individual resultaram em imenso sofrimento.
Karl Marx, em sua crítica à religião, afirmou que "A religião é o ópio do povo" (MARX, 1978, p. 53). Para Marx, a religião servia como uma ferramenta de alienação, mantendo as massas pacificadas e submissas ao esconder as verdadeiras causas de sua opressão e sofrimento. A crença em um ser supremo que intervém nas questões humanas torna-se insustentável diante das evidências da nossa condição mortal e falível. Marx via a religião como um consolo ilusório, desviando a atenção das injustiças sociais e econômicas que deveriam ser enfrentadas e resolvidas.
O conceito de democracia deveria ser a luz guia, assegurando que todos, especialmente as crianças, vivam em um mundo seguro e justo. No entanto, a contínua violência e a morte de inocentes demonstram que a humanidade falha em proteger seus membros mais vulneráveis. Não podemos esperar que uma entidade divina resolva nossos problemas quando é nossa responsabilidade agir.
"Não existe Deus! Não há deus em lugar algum!" é um clamor que nasce do profundo senso de impotência e frustração diante de uma realidade cruel. Se Deus existe, Ele parece ausente ou indiferente ao sofrimento humano. Talvez a resposta não esteja na fé cega, mas na ação concreta e no compromisso com a justiça e a paz. Precisamos transformar nosso desespero em força motriz para criar um mundo onde nenhuma criança precise temer as águas de um rio ou o estrondo de uma explosão.
A busca por um cessar-fogo, por um fim às guerras e à violência, e por um mundo onde a democracia seja realmente um bem universal, exige de nós coragem e determinação. É nossa responsabilidade coletiva garantir que todas as crianças possam viver com segurança e dignidade. Somente assim poderemos começar a preencher o vazio deixado pela ausência de um deus tangível, construindo, com nossas próprias mãos, um futuro onde a vida, em todas as suas formas, seja respeitada e protegida.
Em última análise, a ausência de um deus deve nos incentivar a valorizar ainda mais a vida humana e a lutar incessantemente por um mundo melhor. Ao reconhecer nossa finitude e nossa responsabilidade, podemos criar um legado de paz e justiça que transcende nossa própria existência. É através de nossas ações, e não de uma esperança divina, que encontraremos significado e propósito em um mundo aparentemente desprovido de ambos.
Do ponto de vista marxista, a crítica ao sistema capitalista é essencial para entender a profundidade do sofrimento humano. O capitalismo, ao priorizar o lucro sobre as pessoas, contribui para a destruição ambiental e a desigualdade social. Marx argumentava que a economia deveria ser planejada de maneira a atender às necessidades de todos, promovendo uma distribuição justa dos recursos. Se a humanidade não se curvar a um modelo econômico que priorize o bem-estar coletivo e a sustentabilidade, estaremos caminhando para a destruição final do planeta.
Para evitar esse destino, é necessário adotar uma abordagem ultrademocrática e socialista na economia. Isso implica garantir que os recursos naturais e a produção econômica estejam sob controle democrático, visando o benefício de todos e não apenas de uma elite privilegiada. A liberdade de pensamento e expressão deve ser preservada, permitindo que os indivíduos contribuam com suas ideias e inovações sem medo de repressão. Somente através de uma economia verdadeiramente socialista, que respeite a dignidade humana e o meio ambiente, podemos construir um futuro onde o sofrimento seja minimizado e a justiça social prevaleça.
O desafio é imenso, mas a ausência de um deus nos força a enfrentar nossa realidade com clareza e determinação. É nossa responsabilidade criar um mundo onde a vida seja valorizada acima do lucro, onde a paz seja alcançada através da justiça social e onde o respeito pela natureza seja primordial. A luta por um sistema econômico justo é parte essencial dessa jornada. É somente através de um compromisso com esses princípios que podemos garantir um futuro sustentável e digno para todas as gerações vindouras.
Professor Ronaldo Marcelo
Referências:
MARX, Karl. Crítica da Filosofia do Direito de Hegel. São Paulo: Boitempo, 1978.
NIETZSCHE, Friedrich. A Gaia Ciência. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
NIETZSCHE, Friedrich. Assim Falou Zaratustra. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
NIETZSCHE, Friedrich. Além do Bem e do Mal. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Faça seu comentário, sua opinião é muito importante para nossa a nossa causa.