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Candomblé e Umbanda-------Suas Raízes Diferenças e o Preconceito Histórico no Kardecismo

 


                

A Umbanda é uma religião genuinamente brasileira, nascida da fusão de elementos do Candomblé, Espiritismo Kardecista e Catolicismo. Apesar de compartilhar algumas semelhanças com o Candomblé, a Umbanda possui características próprias que a tornam única. Esta religião se desenvolveu como uma resposta ao preconceito eurocêntrico presente no Kardecismo, que não aceitava entidades como caboclos e pretos velhos, considerados "não evoluídos" por kardecistas. É importante compreender as diferenças entre Umbanda e Candomblé para evitar a perpetuação de equívocos e preconceitos.

Origens e Desenvolvimento da Umbanda

A Umbanda surgiu no início do século XX no Brasil, um país marcado por uma rica diversidade cultural e religiosa. Essa nova religião incorporou elementos de três grandes tradições.

O Candomblé: religião de matriz africana que celebra os orixás e suas manifestações. No Candomblé, os rituais e práticas são profundamente enraizados na cultura africana, com ênfase em tradições, mitologias e hierarquias específicas de cada nação (nagô, jeje, angola, etc.).

Espiritismo Kardecista: Fundado por Allan Kardec, o Espiritismo enfatiza a comunicação com espíritos desencarnados e a evolução espiritual. Kardecismo foi profundamente influenciado pelo pensamento científico e filosófico europeu do século XIX.

Catolicismo: A religião predominante no Brasil, cujo sincretismo com outras práticas religiosas deu origem a diversas manifestações culturais e espirituais. A Umbanda adota elementos do Catolicismo, como santos e símbolos religiosos.

A combinação dessas influências deu origem a uma religião que se distingue pela flexibilidade e a inclusão. A Umbanda se caracteriza por rituais simples, culto aos espíritos de caboclos, pretos velhos e crianças (Erês), e um enfoque na caridade e assistência espiritual.

Diferenças entre Umbanda e Candomblé

Embora Umbanda e Candomblé compartilhem algumas semelhanças, existem diferenças cruciais que devem ser reconhecidas:

Cosmovisão e Panteão. Enquanto o Candomblé tem um panteão de orixás com mitologias e rituais específicos, a Umbanda possui uma abordagem mais inclusiva, acolhendo entidades como caboclos, pretos velhos e crianças. Essas entidades representam aspectos da ancestralidade e espiritualidade brasileira, diferenciando-se dos orixás africanos.

Rituais e Prática. Os rituais no Candomblé são altamente estruturados, com sacrifícios de animais, danças, cânticos e oferendas específicas. Na Umbanda, os rituais são mais simples e acessíveis, focando na incorporação dos guias espirituais e trabalhos de caridade.

Sincretismo. O sincretismo religioso só é observado na Umbanda, que combina elementos do Catolicismo, Espiritismo e Candomblé. No Candomblé tradicional não existe sincretismo, a ênfase é maior nas tradições africanas e na preservação da cultura ancestral.

   Preconceitos Históricos e Racismo no Kardecismo

A resistência do Espiritismo Kardecista em aceitar entidades como caboclos e pretos velhos tem raízes em um preconceito eurocêntrico. Allan Kardec, influenciado pelas ideias racistas da Europa do século XIX, considerava essas entidades como "atrasadas" ou "não evoluídas". Esse preconceito refletia uma visão hierárquica e discriminatória da espiritualidade, que desvalorizava as contribuições culturais e espirituais dos povos africanos e indígenas.

Kardecismo, apesar de suas contribuições para o entendimento da mediunidade e espiritualidade, falhou em reconhecer a riqueza e a profundidade das tradições afro-brasileiras. A Umbanda, ao contrário, abraçou essas entidades, valorizando sua sabedoria e importância espiritual.


Importância da Umbanda na Cultura Brasileira

A Umbanda desempenha um papel crucial na preservação e valorização da herança cultural brasileira. Ela oferece um espaço onde diferentes tradições e influências podem coexistir e se enriquecer mutuamente. Além disso, a Umbanda tem um compromisso com a caridade e a ajuda aos necessitados, promovendo a inclusão e a solidariedade.

A religião também serve como um meio de resistência cultural e espiritual contra o preconceito e a discriminação. Ao valorizar as entidades de caboclos e pretos velhos, a Umbanda desafia as noções racistas e eurocêntricas, afirmando a dignidade e a importância das tradições afro-brasileiras e indígenas.


A Umbanda não é apenas uma fusão de diferentes práticas religiosas, mas uma expressão única da espiritualidade brasileira. Diferente do Candomblé, a Umbanda possui suas próprias características e cosmovisão, que refletem a diversidade e a riqueza cultural do Brasil. Ao enfrentar e superar os preconceitos históricos presentes no Kardecismo, a Umbanda afirma a importância da inclusão e do respeito por todas as formas de espiritualidade.

Compreender e respeitar as diferenças entre Umbanda e Candomblé é crucial para evitar a perpetuação de equívocos e preconceitos. Ambas as religiões têm seu valor e contribuição únicos para a cultura e a espiritualidade brasileiras. A Umbanda, em particular, destaca-se por sua capacidade de integrar diferentes influências e promover uma espiritualidade inclusiva e acessível a todos.

Referências:

BASTIDE, Roger. O Candomblé da Bahia: Rito Nagô. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

CAMARGO, Candido Procópio Ferreira. Kardecismo e Umbanda: Uma Interpretação Sociológica. São Paulo: Pioneira, 1961.

PRANDI, Reginaldo. Os Candomblés de São Paulo: A velha magia na metrópole nova. São Paulo: Hucitec, 1991.

SILVA, Vagner Gonçalves da. Candomblé e Umbanda: Caminhos da Devoção Brasileira. São Paulo: Selo Negro, 2006.

VERGER, Pierre. Orixás: Deuses Iorubás na África e no Novo Mundo. Salvador: Corrupio, 1981.

Artigos

BROWN, Diana DeGroat. Umbanda: Religion and Politics in Urban Brazil. Journal of Latin American Studies, v. 16, n. 2, p. 465-477, 1984.

NEGRÃO, Lísias Nogueira. Entre a cruz e a encruzilhada: Formação do campo umbandista em São Paulo. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 10, n. 28, p. 54-66, 1995.

CONCONI, Cláudia Regina. Sincretismo Religioso: A Umbanda em São Paulo. 2005. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2005.

LIMA, Vivaldo da Costa. A Religião dos Orixás: Do Sincretismo à Reafricanização. 1984. Tese (Doutorado em Antropologia) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 1984.

Sites

FEDERAÇÃO UMBANDISTA DO GRANDE ABC. História da Umbanda. Disponível em: http://www.fugabc.org.br/historia-da-umbanda. Acesso em: 28 jun. 2024.

https://www.pierreverger.org/br/pierre-fatumbi-verger/textos-e-entrevistas-online/entrevistas-de-verger/entrevista-por-veronique-mortaigne.html

RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS. O que é Candomblé? Disponível em: http://www.religioesafrobrasileiras.org.br/candomble/o-que-e. Acesso em: 28 jun. 2024.


Partido Comunista Peru (SL)

 


Vivemos em uma era marcada pela desigualdade e pela injustiça social. No Peru, essas questões se tornaram particularmente agudas no final da década de 1960, desencadeando movimentos que geraram conflitos até os anos 1980 e 1990. Um dos protagonistas desse período foi Abimael Guzmán, professor de filosofia na Universidade Nacional de San Cristóbal de Huamanga (UNSCH) em Ayacucho.


Segundo Degregori (2016), o Sendero Luminoso foi fruto de uma elite intelectual provinciana e mestiça na UNSCH, que se uniu a uma juventude universitária igualmente provinciana e mestiça. Essa combinação de forças levou à formação de uma organização que procurava desafiar o sistema vigente através da luta armada.


Marx nos ensinou que a disputa entre as classes sociais é o motor da história. A burguesia, detentora dos meios de produção, perpetua sua dominação através da exploração dos trabalhadores. É fundamental que reconheçamos essa dinâmica e nos organizemos para superá-la. A luta não é apenas por melhores salários ou condições de trabalho, mas pela abolição completa do sistema capitalista.


Lenin avançou com a ideia de que a transformação da sociedade só seria possível através de um partido vanguarda, disciplinado e consciente. A organização política deve ser rigorosa, capaz de liderar as massas e enfrentar o Estado burguês com determinação. A Revolução de Outubro de 1917 mostrou-nos que é possível derrubar o regime opressor e construir um novo Estado.


Mao Zedong contribuiu significativamente ao adaptar o marxismo-leninismo à realidade da China. Ele enfatizou a importância da aliança entre o proletariado e o campesinato, reconhecendo que a transformação deve considerar as condições específicas de cada país. A Revolução Cultural também nos lembra da necessidade de combater as influências burguesas dentro do próprio movimento, garantindo que o socialismo se mantenha vivo e progressista. Mao também desenvolveu a estratégia da guerra popular prolongada e a tática do cerco da cidade pelo campo, mostrando como as forças revolucionárias podem se fortalecer nas áreas rurais antes de cercar e tomar os centros urbanos.


Gonzalo, com seu pensamento inovador, trouxe uma nova perspectiva para a transformação no Peru e no mundo. Ele destacou a importância da guerra popular prolongada como a única forma de alcançar a verdadeira transformação. Gonzalo argumentou que a luta armada deveria ser conduzida pelas massas, com uma estratégia bem definida e um forte apoio das bases camponesas. Sua visão influenciou não apenas o Sendero Luminoso, mas também inspirou movimentos em todo o mundo a adotar uma postura mais radical e comprometida na luta contra o imperialismo e o capitalismo global.

Apoiando-se na indignação dos moradores de Ayacucho, Guzmán encontrou o suporte necessário para organizar um partido na década de 70. Ele fortaleceu suas bases entre os camponeses e deu origem ao PCP Partido Comunista do Peru (Sendero Luminoso-SL). Guzmán utilizou a educação como um canal de mobilidade social, um instrumento que poderia tanto transformar quanto frustrar as esperanças dos jovens nos Andes peruanos, potencialmente de forma explosiva.

Integrando esses pensamentos, fica claro que a luta pelo socialismo e equidade é, antes de tudo, uma luta pela emancipação de todos os trabalhadores e trabalhadoras. Não podemos aceitar um sistema que enriquece uns poucos à custa da exploração e miséria de muitos. A transformação da sociedade não é apenas um sonho distante, mas uma necessidade urgente para construirmos uma sociedade onde a riqueza seja compartilhada e onde todos possam viver com dignidade.

Para alcançar esse objetivo, é crucial que nos organizemos, educando e mobilizando as massas. Devemos ser firmes em nossos princípios e flexíveis em nossas táticas, sempre adaptando nossa luta às realidades concretas que enfrentamos. Somente através da unidade, disciplina e compromisso com a causa revolucionária poderemos transformar o mundo e garantir uma verdadeira justiça social para todos.

Gramsci, Hegemonia Cultural e a Luta Contra as Opressões

  


Gramsci, Hegemonia Cultural e a Luta Contra as Opressões

 Antonio Gramsci foi um intelectual, filósofo e político italiano, um dos fundadores do Partido Comunista Italiano e uma figura central no marxismo do século XX. Suas ideias têm influenciado profundamente a teoria política, a sociologia e a educação. Gramsci é especialmente conhecido por seu conceito de hegemonia cultural, que explica como a classe dominante mantém o poder não apenas através da coerção política e econômica, mas também através do controle cultural e ideológico. Este controle é exercido pela disseminação de valores, normas e crenças aceitos como "naturais" ou "comuns" pela sociedade em geral, garantindo a manutenção do status quo.

    Para Gramsci, os intelectuais desempenham um papel crucial na luta pela hegemonia. Ele diferenciava entre os "intelectuais tradicionais", que perpetuam a hegemonia da classe dominante, e os "intelectuais orgânicos", que surgem das classes subalternas e trabalham para criar uma nova hegemonia favorável a essas classes. Todos têm capacidade de pensamento crítico e criatividade, mas nem todos desempenham a função de intelectuais na sociedade.

    A educação, segundo Gramsci, é um dos principais instrumentos para a transformação social. A escola deve não apenas transmitir conhecimentos técnicos, mas também desenvolver a capacidade crítica dos indivíduos, permitindo-lhes questionar e desafiar a hegemonia existente. Gramsci propunha uma educação que promovesse uma cultura orgânica, emergindo das experiências e lutas das classes subalternas. Essa cultura orgânica seria uma forma de resistência à hegemonia dominante e um meio para construir uma nova sociedade baseada na justiça e igualdade.

    Embora Gramsci não tenha usado o termo "socialismo orgânico", suas ideias apontam para uma forma de socialismo que emerge da base da sociedade, através da ação dos intelectuais orgânicos e da transformação cultural. Esse socialismo seria construído não apenas através de mudanças políticas e econômicas, mas também através de uma profunda transformação cultural que envolvesse todos os aspectos da vida social.

    A luta contra o racismo estrutural, a homofobia, o machismo e outras formas de opressão deve ser central na construção desta nova hegemonia cultural. As pérolas usadas por religiões colonizadoras e pela extrema direita para se perpetuarem no poder, como a repressão ao livre uso da maconha, precisam ser desafiadas e superadas. A transformação social e a criação de uma nova sociedade justa e equitativa requerem mudanças profundas na cultura e na mentalidade das pessoas. Os intelectuais orgânicos desempenham um papel crucial nesse processo, utilizando a educação e outros meios culturais para desenvolver uma consciência crítica que desafie a hegemonia da classe dominante. Assim, um socialismo orgânico pode ser entendido como um movimento que emerge das experiências e lutas das classes subalternas, promovendo uma nova hegemonia cultural que favoreça a justiça e a igualdade.

    Gramsci acreditava que a transformação social e a construção de uma nova sociedade socialista requeriam mudanças profundas na cultura e na mentalidade das pessoas. Os intelectuais orgânicos desempenhariam um papel crucial nesse processo, utilizando a educação e outros meios culturais para desenvolver uma consciência crítica e desafiar a hegemonia da classe dominante. Esta nova hegemonia deve ser inclusiva e englobar todas as formas de luta contra as opressões estruturais e sistêmicas que perpetuam as desigualdades na sociedade.

Prof. Marxcello

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