Maconha e Racismo: Interesses da Classe Escravocrata no Brasil
Introdução
A criminalização da maconha no Brasil está profundamente entrelaçada com as questões de racismo e controle social. Durante o período colonial, a maconha era utilizada tanto por negros escravizados quanto por pobres, refletindo práticas culturais e medicinais variadas. No entanto, a regulamentação da planta reflete um esforço da elite escravocrata para manter a ordem social e marginalizar grupos considerados subalternos.
Historicamente, a maconha foi uma parte integral da vida de muitos escravizados no Brasil. Para os negros escravizados, a planta era usada em rituais e como remédio, funcionando como um meio de resistência cultural e alívio diante das adversidades (MAMEDE, 1945). Entretanto, à medida que a influência colonial se consolidava, a maconha passou a ser associada a práticas subversivas e comportamentos indesejáveis, principalmente quando utilizada por grupos marginalizados (DIAS, 1927).
De acordo com o documento "Fumo Negro: Políticas de Criminalização e Impactos Sociais", “a criminalização da maconha foi uma ferramenta de controle social que visava reprimir e marginalizar as práticas culturais dos negros e pobres” (RI/UFBA, 2021). Além disso, o estudo destaca que “as políticas repressivas refletiam um desejo mais amplo de manter a ordem social através da marginalização das práticas associadas aos grupos subalternos” (RI/UFBA, 2021).
O artigo de Silva et al. (2020) também contribui para a compreensão da questão, afirmando que "as políticas de criminalização da maconha, além de reforçar o controle sobre a população marginalizada, foram instrumentalizadas para consolidar a hierarquia racial e social no Brasil colonial" (SILVA et al., 2020). O estudo revela que “a regulação da maconha estava profundamente entrelaçada com a tentativa das elites de controlar as práticas culturais e sociais dos grupos marginalizados” (SILVA et al., 2020).
O Código de Posturas da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, de 1830, e o Decreto-Lei Federal nº 891, de 1938, são exemplos claros de como a regulamentação da maconha foi usada para reforçar a hierarquia social existente e controlar a população negra e pobre. A criminalização refletia a intenção de reprimir práticas culturais que desafiavam a ordem estabelecida (CARLINI et al., 2002).
Conclusão
A análise da criminalização da maconha no Brasil demonstra que essas políticas foram ferramentas de controle social profundamente ligadas ao racismo e aos interesses da classe escravocrata. As legislações que criminalizaram a maconha serviram para marginalizar ainda mais os negros e pobres, consolidando desigualdades raciais e econômicas.
O legado dessas políticas é evidente na atualidade, com taxas desproporcionais de encarceramento de negros por crimes relacionados às drogas. A luta por uma reforma nas políticas de drogas deve ser vista como parte de um movimento mais amplo por justiça racial e social. Reconhecer e corrigir os legados históricos da criminalização da maconha é fundamental para avançar em direção a uma sociedade mais justa e equitativa.
Referências
- ARAÚJO, S.; LUCAS, V. Catálogo de extratos fluidos. Rio de Janeiro: Silva Araujo & Cia. Ltda, 1930.
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- SILVA, João Paulo; PEREIRA, Ana Beatriz; MORAIS, Lucas. “O Controle Social e a Criminalização da Maconha: Uma Análise Crítica”. Journal of Behavioral and Social Sciences, v. 15, n. 3, 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/j/jbpsiq/a/xGmGR6mBsCFjVMxtHjdsZpC/?lang=pt. Acesso em: [11/09/2024.
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