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A Participação Proletária nas Eleições Burguesas - Perspectivas de Friedrich Engels sobre a Utilização do Estado na Luta de Classes


     A participação do proletariado nas eleições burguesas, segundo Friedrich Engels, deve ser encarada como uma estratégia tática fundamental na luta pela emancipação da classe trabalhadora. Friedrich Engels, em "A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado" (1884), oferece uma análise detalhada sobre a evolução das sociedades humanas e a formação do Estado. Segundo Engels, o Estado é uma ferramenta de opressão usada pela classe dominante para manter seu poder. No entanto, ele também reconhece que, em determinadas circunstâncias, o Estado pode ser utilizado pelo proletariado como um meio de avançar em suas lutas. Ele afirma que “O Estado moderno, seja qual for a sua forma, é essencialmente uma máquina da burguesia para manter sob domínio a classe operária” (Engels, 1884, p. 307). Essa visão não descarta a possibilidade de o proletariado utilizar o Estado para fins revolucionários.

    Engels vê o sufrágio universal como uma forma pela qual a classe trabalhadora pode ganhar experiência política e medir a correlação de forças dentro da sociedade. Ele destaca que a participação eleitoral pode revelar o nível de organização e a maturidade política do proletariado, elementos essenciais para a construção de uma consciência revolucionária. Assim, a participação nas eleições, mesmo sob um Estado burguês, é vista como uma etapa necessária na preparação para a revolução socialista.

    A participação nas eleições burguesas, segundo Engels, deve ser entendida como uma tática dentro da luta de classes. Em suas correspondências e escritos, como no prefácio à edição de 1895 de "A Luta de Classes na França", Engels esclarece que o sufrágio universal é uma ferramenta que permite ao proletariado avaliar sua força e obter conquistas parciais. Ele argumenta: “O sufrágio universal é o índice da maturidade da classe operária. Não pode ser e nunca será mais do que isso em um Estado moderno” (Engels, 1895, p. 517).

    Essa visão está em consonância com a análise de Marx no "Manifesto Comunista" (1848), onde se afirma que a conquista do poder político é uma etapa essencial na luta revolucionária. Engels complementa essa análise ao sugerir que, embora o Estado burguês seja fundamentalmente um instrumento de dominação, ele não é monolítico. Através de uma luta consciente e organizada, o proletariado pode explorar as contradições internas do Estado para avançar em suas demandas.

    No "Manifesto Comunista", Marx e Engels defendem que os comunistas devem buscar conquistar o poder político como um passo essencial para a revolução proletária. Eles afirmam que "o primeiro passo na revolução operária é a elevação do proletariado a classe dominante, a conquista da democracia" (Marx & Engels, 1848, p. 31). Aqui, a “democracia” referida é entendida no sentido da maioria operária se organizando para exercer o controle sobre o Estado.

    Essa defesa da participação política através do sufrágio universal é complementada por uma crítica da política burguesa. Marx e Engels reconhecem que as eleições burguesas são limitadas e manipuladas pelas classes dominantes, mas insistem que os comunistas devem usar todas as oportunidades disponíveis para promover a causa proletária. A luta eleitoral, portanto, é uma maneira de galvanizar a classe trabalhadora, criar uma base de apoio e construir a consciência de classe necessária para a revolução.

    Tanto Marx quanto Engels enfatizam que a participação nas eleições deve ser acompanhada por uma forte organização de classe e uma consciência revolucionária. Engels, em particular, adverte contra a ilusão de que o sufrágio universal por si só possa levar à revolução. Ele escreve em uma de suas cartas que “O partido operário não deve se deixar levar pela ilusão de que o sufrágio universal é capaz de produzir a transformação social por si só” (Engels, 1879).

    Essa advertência é essencial para entender a estratégia marxista-leninista. A participação nas eleições deve ser uma parte de uma estratégia mais ampla, que inclui a organização sindical, a educação política e a mobilização de massas. O sufrágio universal, nessa perspectiva, é uma ferramenta tática que deve ser utilizada com a compreensão clara de suas limitações e potencialidades.

    A utilização do sufrágio universal pelo proletariado, conforme defendido por Marx e Engels, deve ser vista como uma estratégia tática dentro da luta mais ampla pela derrubada do capitalismo. A participação em eleições burguesas permite ao proletariado medir sua força, organizar-se politicamente e avançar em suas demandas, ao mesmo tempo em que se prepara para a transformação revolucionária da sociedade.        

    Engels resume essa abordagem ao afirmar que “A vitória pode ser conquistada através das urnas, mas somente se o proletariado tiver construído uma organização de classe forte e consciente, capaz de utilizar o Estado burguês para seus próprios fins revolucionários” (Engels, 1895, p. 519). Assim, o sufrágio universal, dentro da estratégia marxista, não é um fim, mas um meio para atingir a emancipação da classe trabalhadora e a construção de uma sociedade socialista.

Referências

  • Engels, F. (1884). A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado.
  • Engels, F. (1895). Prefácio à edição de 1895 de A Luta de Classes na França.
  • Marx, K., & Engels, F. (1848). Manifesto Comunista.
  • Engels, F. (1879). Correspondência.

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