"Faz o que tu quere e haverá de ser o todo da Lei"
Aleister Crowley, nascido Edward Alexander Crowley em 12 de outubro de 1875, em Leamington Spa, Inglaterra, emerge como uma das figuras mais complexas e controversas do ocultismo moderno. Proveniente de uma educação profundamente cristão-protestante sob a influência da seita Plymouth Brethren, ele desenvolveu, ainda na juventude, uma rejeição visceral à doutrina religiosa que lhe foi imposta. Esse desdém pelo cristianismo convencional moldaria sua busca incessante por sistemas espirituais alternativos, culminando na formulação de uma filosofia própria: o Thelema.
Os Primeiros Anos e o Despertar Ocultista
Crowley ingressou no Trinity College, na Universidade de Cambridge, onde inicialmente buscava uma carreira convencional. Contudo, sua fascinação por temas esotéricos e experiências espirituais o levou a abandonar os estudos formais. Foi através de George Cecil Jones que Crowley entrou na Ordem Hermética do Amanhecer Dourado (Hermetic Order of the Golden Dawn) em 1898. Essa sociedade secreta, que congregava intelectuais, místicos e artistas, tornou-se o berço de seu aprendizado em magia ritual, cabala, alquimia e astrologia. Apesar de seu rápido progresso dentro da hierarquia da Golden Dawn, a ordem enfrentou divisões internas que culminaram em seu desmembramento em 1900.
Não satisfeito com as limitações do sistema ocidental, Crowley embarcou em uma jornada pelo Oriente, onde estudou disciplinas como o Yoga e outras práticas místicas. Essa fusão entre o misticismo oriental e as tradições ocultistas ocidentais constituiria o cerne de sua abordagem espiritual.
O Livro da Lei e o Nascimento do Thelema
Em 1904, durante uma viagem ao Egito com sua esposa Rose Kelly, Crowley vivenciou um episódio que definiria sua vida e legado. Rose entrou em trânse e proclamou que o deus egípcio Horus tentava se comunicar com Crowley. Ao seguirem suas instruções, encontraram no Museu Boulak, no Cairo, uma representação de Horus associada ao número 666, uma conexão que Crowley interpretou como uma confirmação divina de sua missão.
Nos dias subsequentes, Crowley escreveu o "Liber AL vel Legis" (O Livro da Lei), ditado por uma entidade chamada Aiwass. O texto apresentava a Lei de Thelema, sintetizada na máxima: “Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei. O amor é a lei, amor sob vontade.” Essa revelação marcou o início da Era de Horus, uma nova fase espiritual para a humanidade.
Fundando Novas Ordens e Expansão do Thelema
Determinado a institucionalizar seus ensinamentos, Crowley fundou a ordem A.’.’. A.’.’. (Astrum Argentium) em 1906, juntamente com George Cecil Jones. Essa organização buscava dar continuidade ao legado da Golden Dawn, agora reformulado sob os princípios de Thelema. Mais tarde, em 1910, Crowley se associou à Ordo Templi Orientis (O.T.O.), uma ordem iniciática alemã, reformulando seus rituais e direcionando-a para a promoção global de sua filosofia.
O impacto de Crowley não se restringiu ao esoterismo. Suas ideias influenciaram movimentos artísticos e filosóficos, bem como a emergência de contraculturas no século XX. Entre seus muitos escritos, destacam-se tratados sobre magia prática, poesia e comentários ao Livro da Lei, consolidando seu papel como um dos maiores expoentes do ocultismo moderno.
Controvérsias e Legado
Apelidado de “O Homem Mais Perverso do Mundo” pela imprensa sensacionalista de sua época, Crowley foi alvo de críticas não apenas por suas práticas não ortodoxas, mas também por seu comportamento desafiador e antiético aos padrões morais vigentes. Contudo, seu trabalho transcendeu tais controvérsias, influenciando desde as práticas da Wicca até o movimento da Nova Era.
Aleister Crowley faleceu em 1º de dezembro de 1947, em Hastings, Inglaterra. Ainda hoje, suas ideias vivem através das ordens A.’.’. A.’.’. e O.T.O., bem como nos numerosos seguidores e estudiosos do Thelema, que continuam a expandir os limites do conhecimento espiritual e místico. A Lei de Thelema, em toda a sua complexidade e profundidade, permanece um convite ao autoconhecimento e à realização da verdadeira vontade.
A causa exata da morte de Aleister Crowley não é completamente clara, mas acredita-se que ele tenha morrido devido a complicações de várias condições de saúde, incluindo problemas cardíacos, insuficiência respiratória e problemas relacionados ao uso excessivo de drogas e álcool ao longo de sua vida. Ele estava sofrendo de uma série de enfermidades, como bronquite crônica e problemas renais, que se agravaram nos últimos anos de sua vida, contribuindo para o seu falecimento.
Aleister Crowley, embora fosse uma figura complexa, com opiniões sobre política e sociedade que variavam ao longo de sua vida, teve uma abordagem crítica em relação a diversas ideologias, incluindo o nazismo e o comunismo.
Crítica ao Nazismo: Crowley foi um crítico aberto do nazismo, especialmente da ideologia de Adolf Hitler. Ele considerava o nazismo uma forma de autoritarismo, com elementos de culto à personalidade e controle totalitário que ele rejeitava. Crowley via o regime nazista como um obstáculo à liberdade individual e à expressão criativa, que eram centrais em suas próprias crenças. Sua oposição ao nazismo se alinhava com seu desapreço pela opressão e controle, mesmo que, como muitos, não tenha demonstrado uma compreensão profunda dos detalhes da política internacional da época
Crítica ao Comunismo: Por outro lado, Crowley também criticou o comunismo, particularmente sob a ótica marxista-leninista, chamando-o de "cacarejante" em alguns de seus escritos. Ele se opunha ao que via como a falta de liberdade individual dentro de sistemas coletivistas e centralizadores, como o comunismo soviético. Para Crowley, a ênfase no indivíduo e na liberdade pessoal era fundamental, algo que ele acreditava ser incompatível com regimes que impusessem uma ideologia única a todos. Seu próprio sistema filosófico, a "Thelema", valorizava a liberdade de vontade e a autossuficiência, o que tornava o comunismo e o autoritarismo um alvo de suas críticas.
Crowley, em sua visão de mundo, via tanto o nazismo quanto o comunismo como formas de controle que, de alguma maneira, suprimiam a expressão individual, algo que ele via como essencial para a verdadeira liberdade. No entanto, sua crítica era mais centrada nas implicações autoritárias de ambos os regimes do que em uma análise profunda de suas propostas econômicas ou sociais.
Sua abordagem política, portanto, reflete sua visão de que a liberdade individual e a autoexpressão não devem ser sacrificadas por qualquer ideologia, seja de direita ou de esquerda.
"Amor é a Lei, mas amor sob vontade"
Referências:
CROWLEY, Aleister. O Livro da Lei (Liber AL vel Legis). 1904.
- O "Liber AL vel Legis" foi, de fato, escrito por Aleister Crowley em 1904 e é a obra central de sua filosofia, Thelema. Essa referência é correta.
CROWLEY, Aleister. Magia em Teoria e Prática. 1929.
- A obra "Magick in Theory and Practice" foi escrita por Crowley e publicada em 1929. A tradução para o português é de fato intitulada "Magia em Teoria e Prática". Esta referência também está correta.
HESS, William. Aleister Crowley: A Besta 666. Teitan Press, 1997.
- Este livro, escrito por William Hess, realmente existe e é uma biografia de Crowley. No entanto, não posso garantir a data de publicação exata, pois a Teitan Press tem várias edições de obras de Crowley. A obra é legítima, mas verifique a edição específica para mais detalhes.
O’NEILL, Peter. O Paranormal e o Ocultismo na Obra de Aleister Crowley. Aquarian Press, 2000.
- A obra de Peter O'Neill intitulada "The Paranormal and the Occult in the Work of Aleister Crowley" existe, mas o título exato pode variar dependendo da tradução. Não encontrei uma tradução específica para o português com esse título exato, portanto a referência pode não ser totalmente precisa.
- HAY, David. O Legado de Crowley: Uma Reavaliação Moderna da Influência de Aleister Crowley na Espiritualidade e na Cultura Contemporân