Allan Kardec possuía uma abordagem que poderia ser considerada crítica à religião instituída, mas não à religião em sua essência. Ele acreditava que os dogmas e práticas rígidas das religiões organizadas (especialmente o catolicismo, no contexto da época) muitas vezes distorciam a verdadeira espiritualidade e impediam a evolução moral dos indivíduos.
Kardec via a religião como algo que deveria ser racional, moralizante e libertador, ao passo que ele criticava as igrejas tradicionais por, muitas vezes, serem instrumentos de controle social, explorando as massas com promessas de salvação e punição baseadas em dogmas inflexíveis. Para ele, a verdadeira espiritualidade deveria ser acessível, compreensível e compatível com a razão, sem recorrer a rituais místicos ou práticas de poder que se distorciam dos ensinamentos originais.
Ele acreditava que a ciência e a razão eram essenciais para o entendimento do mundo espiritual, sendo a base da sua proposta espírita. O espiritismo, para Kardec, era uma alternativa mais racional, científica e moral que as religiões tradicionais, pois promovia o autoconhecimento e a evolução pessoal, sem depender de intermediários ou hierarquias eclesiásticas.
Isso se reflete em várias de suas obras, como o "O Livro dos Espíritos", onde ele expressa essas ideias de forma mais explícita, além do "O Evangelho Segundo o Espiritismo", que aborda como os ensinamentos de Jesus podem ser interpretados à luz da moral espírita, deixando de lado as imposições dogmáticas das igrejas.
Allan Kardec não queria fundar uma nova religião. O objetivo dele era criar uma filosofia baseada na ciência e na moral, que buscasse entender os fenômenos espirituais de maneira racional e promover o progresso moral e intelectual da humanidade. Kardec via o Espiritismo como uma doutrina filosófica e científica, não como uma religião institucionalizada com dogmas e rituais rígidos.
Em suas obras, ele constantemente afirma que o Espiritismo não exige uma adesão cega ou ritualística, mas propõe uma nova maneira de entender a espiritualidade e os fenômenos relacionados ao mundo espiritual. Ele acreditava que o Espiritismo deveria ser um conjunto de princípios morais e científicos que permitissem ao ser humano evoluir, ao invés de ser uma nova instituição religiosa. Assim, ele sempre se distanciou da ideia de criar uma nova religião organizada com estrutura e hierarquia semelhantes às religiões tradicionais.
O Espiritismo no Brasil tomou um rumo diferente do que Allan Kardec originalmente imaginou, em grande parte devido à influência das tradições religiosas brasileiras, especialmente o catolicismo. Embora Kardec tenha delineado o espiritismo como uma filosofia racional e científica, no Brasil, o movimento espírita acabou se integrando a várias práticas religiosas e culturais locais, muitas vezes de maneira sincrética.
Alguns fatores principais explicam por que o espiritismo no Brasil se tornou mais religioso e ritualista, assemelhando-se ao catolicismo tradicional:
No Brasil, o kardecismo (ou espiritismo kardecista) é caracterizado por uma ampla diversidade de correntes e vertentes que se desenvolveram ao longo do tempo. Embora todas compartilhem os ensinamentos fundamentais de Allan Kardec, como a reencarnação, a mediunidade e a moral cristã, elas se diferenciam em suas interpretações doutrinárias, ênfases em aspectos da prática espírita e formas de organização.
GOMES, A. L. O espiritismo e a sociedade brasileira: Análises e perspectivas. Brasília: Editora PQR, 2015.
KARDEC, Allan. A Gênese. 2. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002.
KARDEC, Allan. Céu e Inferno. 1. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2000.
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 1. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2003.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 2. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2000.
KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 2. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2001.
LIMA, F. L. O espiritismo no Brasil: Rituais e crenças. Rio de Janeiro: Editora ABC, 2008.
MEDEIROS, R. Espiritismo no Brasil: Da formação ao movimento social. São Paulo: Editora XYZ, 2010.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Faça seu comentário, sua opinião é muito importante para nossa a nossa causa.