A IGREJA CATÓLICA, O LATIFÚNDIO E A EXTREMA DIREITA
A IGREJA CATÓLICA, O LATIFÚNDIO E A EXTREMA DIREITA
A morte do Papa Francisco é tratada como comoção mundial, com líderes de Estado e redes de televisão prestando homenagens. Mas será que esse mesmo mundo chorou as mulheres assassinadas todos os dias nas periferias? Chorou os indígenas expulsos de suas terras? Chorou os mortos pela fome e pela bala? O que se lamenta, de fato, é a morte do chefe de um Estado latifundiário, banqueiro e aliado da extrema direita global: o Vaticano.
O Vaticano é o maior latifundiário religioso do mundo. Possui milhares de imóveis, prédios históricos, terras em diversos países e riquezas acumuladas ao longo de séculos. Seu poder político é imenso. Sua influência vai muito além da religião. É uma potência internacional com sede em Roma, mas com braços ideológicos espalhados em todos os continentes, inclusive no Brasil.
Aqui, a Igreja Católica esteve presente desde a chegada dos colonizadores. Foi cúmplice do genocídio indígena e da escravidão negra. Durante séculos, pregou o patriarcado, o machismo, a submissão das mulheres e a obediência aos senhores. E, mesmo no século XXI, continua propagando discursos contrários à igualdade de gênero, à liberdade sexual e ao direito das mulheres decidirem sobre seus corpos.
Durante a ditadura militar, setores da Igreja apoiaram o regime. Silenciaram diante da tortura. Hoje, com a ascensão da extrema direita no Brasil, vemos padres e bispos católicos apoiando políticos fascistas como Jair Bolsonaro. O falecido padre Jonas Abib, da Canção Nova, foi um dos principais articuladores do catolicismo de direita, ensinando jovens a temer o comunismo e a idolatrar o Estado policial.
Sob o pretexto de defender a “família” e os “bons costumes”, líderes católicos se aliaram ao bolsonarismo, promovendo desinformação sobre vacinas, atacando a educação sexual nas escolas, difamando os movimentos sociais e demonizando a esquerda. A extrema direita católica se fortalece com apoio financeiro e midiático. Hoje, canais católicos reproduzem o ódio travestido de fé.
Enquanto isso, a pobreza se alastra. O latifúndio, nunca tocado pelas homilias dominicais, destrói a Amazônia, expulsa camponeses e enriquece o agronegócio. A Igreja nunca excomungou fazendeiros assassinos. Mas ameaça fiéis que defendem o aborto legal. Jamais proibiu a comunhão de militares torturadores, mas condena homossexuais a viverem envergonhados.
Há ainda o vergonhoso capítulo da aliança com o nazismo. O Papa Pio XII se calou diante do extermínio dos judeus. E até hoje, a Igreja não fez justiça às suas vítimas. Recentemente, líderes religiosos voltaram a relativizar o nazismo, como vimos em declarações de figuras religiosas ligadas a Bolsonaro.
Portanto, a morte de um Papa não pode nos cegar diante da estrutura de poder que ele representa. Choramos, sim, a perda de um ser humano. Mas não podemos esquecer que, por trás das vestes brancas, há séculos de dominação, violência simbólica e material contra os pobres, as mulheres, os negros e os povos indígenas.
Chora-se o Papa. Mas não se chora a mãe negra assassinada. Não se chora o jovem indígena morto pelo latifúndio. Não se chora a travesti morta na rua. A Igreja Católica, com raríssimas exceções, sempre esteve ao lado dos senhores, dos generais e dos banqueiros.
Não devemos nos iludir com símbolos. Devemos olhar para a prática histórica. E ela mostra que a Igreja Católica, em sua maioria institucional, foi inimiga dos pobres. E o será, enquanto continuar servindo aos interesses dos ricos.
Prof. Marxelo Crowley
Referências:
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KERTZER, David. O Papa e Mussolini: A história secreta de Pio XI e a ascensão do fascismo na Europa.
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SAFIOTTI, Heleieth. Gênero, patriarcado e violência.
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BUTLER, Judith. Quadros de guerra.
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FOLHA DE S. PAULO. “Líderes católicos elogiam Bolsonaro”.
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BBC Brasil. “Vaticano e os milhares de imóveis pelo mundo”.
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Documentos da Canção Nova: pregações de Jonas Abib.
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VIEIRA, Antonio. Padres e Ditadura.
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